quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Alice Vieira comemora hoje 30 anos de livros



Em 30 anos de carreira, comemorados hoje, Alice Vieira escreveu dezenas de livros, ganhou prémios, marcou gerações de leitores e alargou o agregado familiar com filhos e netos «postiços» com quem se corresponde por carta.

Em 1979, um pedido dos filhos transformou a jornalista do Diário de Notícias numa escritora de livros infanto-juvenis.

«'Rosa, minha irmã Rosa' surgiu porque os meus filhos pediam muito para escrever histórias para eles. Queixavam-se que eu saía muito cedo e chegava muito tarde a casa e que nunca escrevia nada para eles», recordou em entrevista à Lusa.

«Para ver se os calava», Alice Vieira desafiou-os a escreverem uma história em conjunto com ela.

Durante umas férias, os finais de tarde eram passados à volta da mesa de casa a trabalhar naquele que se tornaria uma referência para centenas de crianças.

«Ao fim de 20 dias estava pronto. Eles levaram o livro para a escola, divertiram-se muito e eu pensei: acabou-se, não escrevo mais nada», lembrou.

Alice Vieira enviou a história para um concurso, venceu e Rosa, minha irmã Rosa foi publicado.

«Vendeu-se muito. O editor como viu que tinha vendido muito pediu-me para escrever outro livro, depois mais outro e mais outro, até hoje», disse.

Ser escritora foi algo que nunca ambicionou, aconteceu «completamente por acaso, nem nunca tinha sido profissão que quisesse ter».

Na altura «tinha muitas dificuldades em escrever diálogos» e acha que isso se nota em Rosa, minha irmã Rosa.

«Tem os defeitos de um primeiro livro, como é lógico. Estou-lhe muito ligada porque é o primeiro», disse, acrescentando que por ter sempre falado nele em escolas não nota que se passaram 30 anos desde a primeira edição da obra.

De um momento para o outro viu-se com duas profissões, que exigiram «uma ginástica, durante muitos anos muito complicada».

Ainda hoje divide-se entre os jornais (a um ritmo não diário), os livros, as visitas às escolas e as cartas. Alice Vieira responde a todas as cartas que recebe.

Há pelo menos duas leitoras com quem se corresponde há tantos anos como os que leva de escrita de livros infanto-juvenis.

«Estabelece-se um cordão grande. Escreviam cartas grandes - de sete ou oito páginas - em que me contavam tudo, porque precisavam que os ouvisse», referiu.

Em casa tem fotografias das «miúdas» que entretanto cresceram e dos filhos delas, os «netos postiços».

Das centenas de leitores com quem se correspondeu ao longo dos anos conhece «nem meia dúzia».

«Uma há uns tempos disse-me: 'se te conheço não sou capaz de dizer as coisas que te digo'. Elas diziam-me tudo, um bocadinho como um confessionário, e sabem tudo de mim também. Prefiro assim [não conhecer todas], temos mais naturalidade naquilo que falamos», disse.

Alice Vieira sabe que hoje algumas irão estar presentes na comemoração dos 30 anos da sua carreira no Teatro São Luiz, foram elas que lhe disseram nas cartas que trocam.

Lusa / SOL

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